Motivo: o cálculo

Será possível interagirmos natural e espontaneamente com o universo? 

Em verdade, temos medo da realidade que, de forma única, percebemos. Não a compreendemos.

De repente, um estalo, um estremecimento absurdo, uma mistura única nos toma por inteiro. Algo de dentro e algo de fora se combinam e derretemos; fundimo-nos em inexorável alquimia: forma-se uma pedra bruta, sem lapidação. 

Para a maioria, a pedra permanece no mesmo lugar, indigesta, indissolúvel, exigente — crisálida que não conhecerá metamorfose. 

Para alguns, essa pedra é tão impossivelmente dolorosa e indigerível que buscam, na agonia do escrever, a sua expressão.

Se, afinal, esses poucos sofredores deliciar-se-ão ante os parcos signos e símbolos impressos que houverem produzido, pouco lhes importa: ao menos sentirão o alívio de terem expelido o cálculo!



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